Quem acompanha o blog sabe que recentemente nós voltamos de "mala e cuia" (como se diz aqui no Sul) pro Brasil. Depois de 3 anos e trazendo na mala um bebê de 9 meses, foi difícil trazer pouca coisa, por mais que tenhamos enxugado!!!! Logo ficou claro que só a franquia da companhia aérea seria pouco e optamos por um frete aéreo. Quando decidimos por este procuramos informações na web e encontramos quase nada. Normalmente quem fala sobre transporte e mudança internacional só comenta do frete marítimo e que se deve evitá-lo.
Semana passada as nossas caixas chegaram e, com todo o processo finalizado, pedi ao maridão para escrever um texto para o blog do passo a passo já que foi ele quem movimentou tudo isso.
Acompanhem abaixo o texto do Gustavo.
"Recentemente mudamos de Nantes
na França para Porto Alegre no Brasil.
Quando se mora mais de 1 ano
fora do Brasil o cidadão brasileiro tem isenção de impostos para trazer sua
mudança de volta, desde que sejam itens usados.
A fim de trazer algumas coisas
que não seriam possíveis somente nas malas via companhia aérea, optamos por um
transporte aéreo usando um agente de transporte em Nantes (Heppner).Para a
opção de frete marítimo orçamos algo em torno de €1500, mas as complicações e
custos de armazenagem no porto nos afastaram da ideia. Facilmente se gastaria
mais de R$5000, talvez mais de R$10000 até conseguir a liberação de carga de
pessoa física (informações que obtivemos de pessoal que lida diretamente com
isso no Brasil).
Por via áerea, o processo
incluiu um inventário com a listagem de todos os itens para cada caixa,
nominação de cada item, incluindo categoria, quantidade, preço unitário e preço
total quando agrupado.
O custo desse transporte, tendo como origem Nantes/FR
até Porto Alegre/BR, foi de €988 para 7 volumes totalizando 153Kg. Vocês podem
se perguntar, e vale a pena? Bom, acima de 100Kg começa a valer, pois o
orçamento para menos que isso não baixa de €700. Então o preço pago por Kg
diminui na medida em que se coloca mais peso.
Comparamos esse valor com os
cobrados nas aéreas por mala extra, e optamos pelo frete aéreo pois nos
permitiu levar em caixas (o que foi bem mais barato que comprar malas) e com
dimensões maiores que as especificadas pelas cias. Por exemplo, voltamos de TAP
de Paris para Porto Alegre, e cada volume extra que levássemos como bagagem
acompanhada nos custaria €150, com peso máximo de 23Kg por volume e dimensões
máximas de 158cm somando altura, largura e comprimento da mala, com um limite
de 2 volumes extras por passageiro. Ou seja, sendo um casal poderíamos levar em
torno de 80Kg em mais 4 malas pagando €600, mas com dimensões restritas. Via
carga aérea não temos limites de dimensões e o que mais importa é o peso.
Outro detalhe é que não podem
ir baterias e deve-se evitar trazer líquidos, pois nos informaram que pode
acabar demorando mais na fiscalização/aduana. Também é crucial colocar como
remetente e destinatário a mesma pessoa que está se mudando, caso contrário
complica na Receita Federal.
Enfim, após fazer o inventário
e fechar o orçamento com a Heppner, uma van foi pegar as caixas uma semana
antes de partirmos. A princípio a Heppner faria o frete com a TAP cargo, mas
esta não estava mais transportando monitores e TVs desde novembro, então foi
escolhida a LATAM. O preço varia um pouco conforme a aérea, mas nada crítico. A
partir daí não nos preocupamos mais com isso até a chegada no Brasil. Um
documento chave nesse processo é o AWB (Air Waybill), também chamado no Brasil
de “Nro de conhecimento aéreo” ou simplesmente “master” por algumas pessoas que
falei ao telefone, e na França é o chamado LTA. Isso é como a nota fiscal da
carga, e você fica com uma cópia da mesma enquanto o original vai com a
mercadoria. Ali deve constar remetente e destinatário com o mesmo nome.
Uma vez em posse da
Heppner, a carga embarcou dia 09/dez de Nantes para Charles De Gaulle (Paris),
e de lá somente no dia 14/dez embarcou para o Brasil, com destino para POA
(Porto Alegre) entrando por GRU (Guarulhos/SP). Sites como www.track-trace.com/aircargo permitem o acompanhamento da carga aérea através do número do AWB. Por ali
vimos que dia 15/dez a carga chegou em Guarulhos. Daí começou uma espera que
todos que lidam com Comex dizem ser “normal”. No dia 16/dez logo após a chegada
da carga me ligaram da TAM pedindo o CPF, mas foi só. Após isso absolutamente
nenhum contato foi feito. Após 5 dias, nada. Durante essa semana de 15 a 22
enviei um e-mail por dia para a TAM e para pessoal de transito da TAM em Guarulhos,
sem retorno. Somente no dia 23/dez, uma semana após a chegada da carga, um
funcionário do setor de transito da TAM em Guarulhos respondeu via e-mail que
“Aguardamos a concessão do documento de transito pela alfandega”.
Ok, fiquei tranquilo
novamente, mas sem nenhuma novidade nos dias seguintes, resolvi consultar um
pessoal que atua como despachantes em SP e RS. Para minha surpresa no dia
26/dez esse pessoal me responde afirmando que provavelmente a carga teria sido
classificada como mercadoria nova pela receita em Guarulhos e teria-se que
entrar com um processo administrativo para corrigir o problema, tendo então que
me cadastrar no sistema RADAR, usado para acompanhamento e tracking de
importações e exportações no Brasil, e esse cadastro/habilitação poderia
demorar de 40 a 50 dias!!! Nesse momento liguei para eles dizendo que eu queria
somente a averiguação da situação do transito em Guarulhos, que estava parado,
mas insistiram que o cadastro era necessário e pediram para preencher
procuração e outras documentações. Não preciso dizer que não comprei a
história, uma vez que sabia que não era necessário tanta complicação para esse
caso de mudança/bagagem desacompanhada. É lógico que pode ser feito com o
cadastro no RADAR também, mas é como matar uma mosca com uma martelada… não
precisa tanto (e mostrarei isso até o final do post).
Antes de enviar qualquer
documento comecei ligando para a Receita Federal no Salgado Filho em POA, mas
eles não tinham muito o que fazer. Liguei então para a Receita Federal em Guarulhos,
e apesar da pessoa não poder me dar muitas informações, me indicou o telefone
do setor de transito internacional do aeroporto( 11- 2445-5187), onde se tinha
acesso ao pessoal plantonista da Receita Federal e se tem exatamente o estado
em que se encontra o processo. Ali me afirmaram que somente dia 22/dez a TAM
entrou com o processo de trânsito (após 7 dias), mas não entregou toda a
documentação necessária, que era o DTA com a fatura (documento de transporte
aéreo). Então fui cobrar diretamente a TAM no setor de cargas no (11- 2445-5525).
Quem me atendeu foi a mesma pessoa que respondeu o e-mail alguns dias antes e ele admitiu que naqueles últimos
dias estavam com falta de pessoal e por isso a demora para o transito da carga.
Mas me garantiu que no dia seguinte, sexta 27/dez haveria uma pessoa para
entregar a documentação completa no setor de transito.
Liguei novamente às 17hs do
dia 27/dez para o setor de transito e a documentação já havia sido entregue e a
Receita Federal já havia liberado via canal verde o transito, no mesmo dia.
Só tenho elogios à atuação da
Receita Federal, pois foram rápidos tanto em Guarulhos quanto em POA, como ficará
demonstrado ao final do post sobre o processo em POA. Liguei então para o setor
de cargas da TAM e me informaram que apesar da carga não estar agendada para o
sábado seria colocada na lista para se agilizar o envio. Mesmo não tendo sido
enviada durante o final de semana, na segunda dia 30/dez saiu de Guarulhos pela
manhã, chegou em POA pelas 10hs e ficou disponível para desembaraço após as
13hs. Começa então a parte final para a retirada da carga.
O processo final para retirada
no destino envolveu:
1) Retirada do AWB original na
cia aérea, no nosso caso TAM
2) Apresentação dos documentos
necessários na Receita Federal/Aduana e inspeção da carga junto ao fiscal,
3) Pagamento da taxa
aeroportuária (ou um termo similar a esse) para a Infraero. Tudo pode ser feito
no mesmo local, no terminal de cargas da Infraero junto do Aeroporto Salgado
Filho no caso de POA.
Para o passo 1 foi necessário
pagar a taxa de U$35 para a TAM, cerca de R$82 na cotação do dia, em dinheiro
vivo.
O passo 2 foi a parte mais
complexa, mas tenho só elogios ao Fiscal Leandro que me atendeu.
Primeiramente foram conferidos
o remetente e destinatário no AWB (mesma pessoa), então foi conferido os
tickets da aérea que voltamos (data e locais), passaporte, o inventário
assinado e um documento emitido pelo Consulado do Brasil em Paris afirmando que
moramos fora do Brasil com as datas (comprovação de estadia por mais de 1 ano
fora do Brasil). Meu CPF também foi checado, e precisa estar válido, assim como
o endereço registrado deve ser alterado para a residência no Brasil (basta
acionar o seu Gerente de contas do Banco para tal). Feito isso e após alguns minutos
fui chamado para a conferência da carga junto ao fiscal. Com o auxílio de um
operador cada caixa é aberta e vasculhada, e fui identificando os itens. A
intenção ali é a conferencia se os itens são realmente usados e não está sendo
transportado nada fora do permitido. Após esse procedimento voltei a esperar
algum tempo até o fiscal chamar para dar 3 vias do documento final, confirmar
que está tudo ok, não tendo pagamento de imposto algum. Fui então para o passo
3, ao guichê da Infraero para pagar o custo de armazenagem, que no caso de
mudança era bem em conta, em torno de R$15. Detalhe que como a Infraero é uma
empresa estatal não podem aceitar dinheiro em espécie, mas o boleto que eles
fornecem pode ser facilmente pago em uma maquina de auto atendimento do Banco
do Brasil no mesmo local. Caso eu não fosse cliente do banco teria que sair do
complexo para pagar o boleto. Feito isso, bastou me direcionar ao portão de
acesso a área dos armazéns com o carro, entregar o comprovante do pagamento à
Infraero e aguardar um operador vir até o carro com a carga, cerca de 10 ou 15
minutos. Todo o processo desde a chegada até a saída levou pouco mais de
2h.
Enfim todo o processo havia
terminado, e após entregar as caixas à Heppner dia 03/dez em Nantes retiramos
elas em POA no dia 30/dez. Em meio a todo processo fiquei impressionado com a
rapidez da Receita Federal, onde inicialmente achei que teríamos mais dor de
cabeça, mas foi exatamente ao contrario. Foram ágeis em Guarulhos e receptivos
em POA. A cia aérea LATAM, ao contrário, foi a principal responsável pela
demora de 2 semanas para um simples transito em São Paulo, que poderia ter sido
feito em questão de horas ou 2, 3 dias, e também deixaram o cliente sem retorno
mesmo após repetidos e-mails enviados. Menos mal que quando cobrados via
telefone agiram, mas foi frustrante saber que a cia aérea para a qual você está
pagando caro simplesmente não dá a devida importância ao cliente.
Por fim, apesar de bem
armazenados dentro das caixas, ficou claro que pelo menos duas caixas sofreram
quedas bruscas, a ponto de quebrar algumas peças de vidro envoltas em plástico
bolha e colocadas dentro de uma caixa metálica. Duas caixas metálicas foram
amassadas e estragadas. É lamentável, para dizer o mínimo, uma vez que essas
caixas estavam envoltas com faixas de “frágil”."
Quando o Gustavo fala que levou o inventário assinado é o seguinte, você precisa levar o documento original. Só que ele é uma lista que você fez no computador, o documento é seu, então, deve-se imprimí-lo e assiná-lo para mostrar ao fiscal que trata-se do "documento original".
Também, é importante neste caso o pedido junto a Embaixada ou Consulado do Brasil no país que você estiver o documento atestando que você mora a mais de um ano fora do Brasil.. É muito importante que este venha indicando datas. Já lemos relatos de pessoas que receberam este documento só com uma declaração, sem a indicação de datas e tiveram problemas junto à Receita Federal.
Uma coisa importante a se destacar é que uma das únicas empresas aéreas que fazem voos pro Brasil que possui uma franquia de 2 malas de 32kgs quando a viagem é originária da Europa é a TAP, por isso optamos por ela e adoramos. Achamos até o espaço entre poltronas maior do que da AirFrance, fica a dica!!!!
Na dúvida, nós guardamos e levamos junto no dia da retirada as notas fiscais dos aparelhos eletrônicos, para provar que eles não eram novos e que nós tínhamos comprado já a algum tempo. Mas as mesmas não foram necessárias. Mas, nunca é demais.
Ainda
estamos pensando se vamos pedir responsabilização da tranposrtadora com
relação aos nossos itens avariados, mas, foram 7 volumes, sendo que um
deles era a nossa televisão e em outro tinha um monitor e um console de
video game e esses itens mais caros chegaram intactos.
Não nos arrependemos da opção, acho que foi a melhor escolha sem dúvida. A única coisa que faríamos diferente é que embaixo de cada caixa, por dentro teríamos revestido com algo melhor para proteger os nossos objetos. Infelizmente, todos esses cuidados de nada adiantam quando o transportador não toma o devido cuidado e atenção com a carga.