Este post ficou longo, hehehehhe (quantas vezes vocês
já leram isso), mas é que dessa vez é especial, afinal é o fechamento de um
ciclo.
Ele é tão especial que contará com trilha
sonora. Vou postar duas
músicas através de videos youtube. Eu os convido a escutá-las enquanto leem este texto.
Há mais ou menos dois meses, eu penso neste post, o
último “morando em Nantes”!!!
Pensava o que escreveria, se me focaria em
agradecimentos, ou em pós e contras, ou em uma lista de coisas que vou sentir
falta da França e das quais já sinto falta do Brasil ou quem sabe uma reflexão
bem filosófica sobre o sentido da vida. Cada dia eu desenhava um post diferente
na minha cabeça. Mas hoje (quarta-feira, 04 de dezembro), sentada no meu
apartamento cada vez mais vazio, decidi fazer um misto de todas as
ideias que tive no maior estilo “joga tudo dentro do liquidificador e vê no que
dá!”
Como eu disse, o meu apartamento está cada dia mais
vazio. Tenho pensando muito em um texto que li há muitos anos atrás e já reli
ele nos últimos tempos várias vezes, inclusive já comentei sobre ele aqui. De autoria
da Martha Medeiros, ela fala da fase em que morou no Chile e do seu retorno ao Brasil. Tenho me fixado muito em uma passagem no qual
ela diz “estranhos entravam na minha casa e a iam deixando mais vazia e sem
alma”. É a mais pura verdade. Não que eu tenha coisas muito valiosas na minha
casa ou que eu seja hiper materialista, mas o conjunto desses objetos forma o
teu lar e cada coisinha que sai é um pouco do quebra-cabeça que forma o teu home sweet home que se desfaz.
Neste mesmo texto, mais para o final diz que hoje ela aprendeu a não se
apegar às coisas materiais. Acho que isso virá para mim depois, quando eu formar
novamente o meu lar. Neste exato
momento, no “olho do furacão” é complicado parar para pensar nisso.
São sentimentos contraditórios, você olha “TUDO” e
“TUDO ISSO” deve desaparecer da sua casa em um dia e meio, mas, ao mesmo tempo,
cada objeto que vai embora leva um pouco da nossa história.
Pra mim, até hoje o objeto mais difícil foi o berço do
Artur. Quando ele passou pela porta de entrada do apartamento não pude mais
olhá-lo, deu um nó na garganta... passou um filme na minha cabeça. Desde o dia
que o escolhi com a minha amiga Andrea... depois todo o trabalho que eu e
o Gustavo passamos para pintá-lo (4 demãos de tinta e lixadas entre elas),
todas as tiradas de medidas e fotos para a minha sogra encomendar o protetor de berço. Depois, o
Artur se descobrindo nele, primeiro aprendendo a rolar, a surpresa a
primeira vez que o encontrei em posição para engatinhar ou em pé na cama...
Mas também, os objetos levam a tua história mas deixam
um espaço em branco para que o novo seja desenhado.
Durante esse processo de mudança, ficou claro uma
coisa que nos damos conta sempre e arranjamos uma desculpa para justificar, A
ACUMULAÇÃO!! Nós chegamos aqui há 3 anos, com 4 malas e mais nada! Agora,
estamos voltando com 7 caixas despachas por transporte aéreo (mais ou menos uns
150kgs), mais 6 malas de 32kgs com a gente. Fora tudo que já colocamos fora, demos ou vendemos.
A cada “canto” que eu vejo coisas acumuladas faço uma
promessa, que no Brasil terei uma casa clean
hehehe, mas não sei se conseguirei cumprir essa promessa, veremos.
Nesse momento de transição, é impossível não se pegar
fazendo um bilan, um balanço desses 3 anos.
E entre as várias vezes que eu refleti à respeito, eu
me peguei classificando as minhas conclusões. Acho que é vício de blogeira. Achei tão interessante que
resolvi compartilhar com vocês.
- O que aprendi na França sorrindo
* é possível estar em um engarrafamento sem precisar
buzinar. As pessoas aqui não buzinam mesmo nos congestionamentos. É ótimo,
porque buzina não faz o trânsito da hora de pico andar, me desculpe os adeptos
dessa prática.
* Que a gentileza no trânsito faz toda a diferença e
NÃO DÓI RETRIBUIR!!!! Como é bom querer pegar uma auto-pista e saber que os
outros motoristas vão te deixar entrar, ou quando se quer entrar em uma rua com
fila de carros, sempre um motorista te dará passagem.
* Que não dói parar para pedestre nem respeitar
ciclista. Também, que ciclistas e pedestres precisam ter noção de regras de
trânsito. Realmente, como já dizia o Profeta Gentileza “Gentileza gera
Gentileza”. Um dia eu sou pedestre, estou com o meu filho no carrinho e adoro
todo mundo parando para atravessarmos a rua (sempre na faixa). Outro dia, sou
motorista e paro para as pessoas que estão esperando para atravessar. Uma regra
simples e eficaz.
* Que dar “Bom dia”, “Obrigada”, “Com licença”, “Por favor”
não dói. Eu já era uma grande fã das palavrinhas mágicas no Brasil, mas aqui
descobri que como é agradável ouvir isso sempre e ver que é quase uma “regra”
social geral não escrita.
*Que é possível sim ter um transporte público de
qualidade. Mas isso demanda tempo e impenho governamental.
*Que é muito bom poder comprar um vinho de qualidade
por uma média de 3 euros a garrafa.
*Que a vida calma, em uma cidade intermediária é
muito bom. A vida em Paris é sedutora mas hoje não trocaria a tranquilidade que
tenho em Nantes pela Cidade Luz.
*Ainda é possível confiar nas pessoas. Quantas vezes
compre coisas de particulares pelos correios, no seguintes sistema: você envia
o cheque, a pessoa recebe, desconta e envia a mercadoria.Funciona!!
*Que existem mais queijos franceses do que juga a sua
vã filosofia. Ahhhhh, os queijos franceses, já me fazem falta!!!!!!!
*Que na França você NUNCA, eu disse NUNCA erra ao
pedir uma sobremesa. Você pode fechar os olhos e fazer um sorteio às cegas na
carte de desserte que você não vai
errar.
- Coisas que eu aprendi chorando
* É muito ruim ser estrangeira. Por mais que você
tente se adaptar, esteja com a mente aberta para a nova cultura, você sempre
traz a sua bagagem, é inevitável. Você sempre tem um sotaque e a maioria dos
seus diálogos são seguidos da pergunta “você é de onde?”. Se você é mal tratado
em algum lugar, sempre fica a dúvida se a pessoa realmente não está de bom
humor ou ela não gosta de estrangeiro. É um sentimento muito estranho. As vezes
a impressão que dá que você está invadindo um espaço que não é seu.
*Que família faz falta. Simples assim.
*Que família, mesmo distante pode estar mais perto
do que você imagina. Também, simples assim.
*Que você ama muito mais o seu país do que você imaginava.
*Que você ama muito mais o seu país do que você imaginava.
*Que você é apegada a muito mais coisas do que você
pensava.
*Que para o resto do mundo, inclusive Portugal, nós
no Brasil falamos “brasileiro”. Isso quando não falamos espanhol.
*Que você é sempre mais forte do que imagina. Parece
frase de facebook mas é verdade. Você está longe da família, sozinha, os
problemas aparecem você tem que resolver e ponto. Não tem pra quem correr, não
tem pra quem delegar é só você e você. No meu caso eu e meu marido que é a
minha rocha!
- O que eu levo pra vida
*Que é muito bom poder voltar. Pode parecer bobagem,
mas é muito bom ser de um país em que podemos voltar, que não vivemos uma
guerra, temos oportunidades, a mulher tem seu espaço. Ai você vai dizer mas
vivemos em uma guerra quando analisamos a violência ou a mulher ocupa cargos
inferiores comparados ao homens. Sim sim, concordo!! Mas quando a gente mora
fora e convive com pessoas de outros países a gente vê que tem
muita sorte. Meu marido tem uma colega doutoranda que é da Líbia e ela não quer
voltar para lá porque ela não pode trabalhar, só se o marido ou pai autorizar. O
Egito, Tunisia, etc estão sempre com os ânimos elevados. Também, eu sou neta e
bisneta de refugiados de guerra. A minha família materna é originária da
Rússia, então eu cresci ouvindo histórias de sofrimento e dor da fuga, de ter
que deixar uma vida toda pra trás, de se separar de familiares e nunca mais ter
contato, da dor de ter que se adaptar a uma cultura por obrigação, a
humilhação de ter que “mendigar” um país que os aceite, já que não são todos que aceitam refugiados... enfim, como já escreveu Milton Nascimento
“Coisa que gosto é poder partir sem ter planos, melhor ainda é poder voltar
quando eu quero”.
*Tudo deu certo. Como disse uma amiga minha, estamos voltando porque tudo deu certo e não porque ficamos sem emprego, ou não nos adaptamos ou tivemos problemas com a documentação. Foi tudo perfeito, dentro do esperado e inesperado, já que voltamos com a nossa maior jóia.
*Tudo deu certo. Como disse uma amiga minha, estamos voltando porque tudo deu certo e não porque ficamos sem emprego, ou não nos adaptamos ou tivemos problemas com a documentação. Foi tudo perfeito, dentro do esperado e inesperado, já que voltamos com a nossa maior jóia.
*Que virar a página não é fácil. Por mais que seja
parte do ciclo dói porque precisamos deixar pra trás a nossa “zona de
conforto”, o conhecido para migrar para o novo.
Eu escrevi este post em dois dias, comecei ele
esvaziando o apartamento e terminei ele já com o apartamento entregue em um
quarto de aparthotel. Foi difícil entregar o apartamento, entregar as chaves,
ver a corretora fechar a porta do lugar que foi teu lar, teu porto seguro, foi
a primeira casa que teu filho conheceu..... saí com um nó na garganta que
continua, é impossível conter as lágrimas em certos momentos Eu quero voltar,
estou feliz mas foram 3 anos, fiz amigos, criei uma rotina, me apaixonei pela
cidade, me rendi à França.
Nantes sempre terá um espaço muito, mas muito especial
no meu coração, nas minhas lembranças, na minha história.
Última foto do Artur no nosso apartamento. Despedida. |
Tenho certeza que o Artur terá muito orgulho de ter
nascido aqui. Mas também mais orgulho ainda de ser brasileiro!!!!
Bom, apesar de ser o meu último post morando em
Nantes, eu continuarei com o blog. Tenho já dois posts alinhavados, um sobre
Paris e outro sobre o que visitar em torno de Nantes. Também quero contar um
pouco das minhas experiências desde aminha gravidez e parto até os trâmites
administrativos para se acolher uma visita em casa.
Também quero aos poucos ir comentando os lugares da
França que conhecemos. Fiquem tranquilos, o blog continua.
Allez!!
On bouge!! Em route direction Brésil!!!!
Vou contar com a ajuda de amigas queridas que ficaram
em Nantes para me passar informações fresquinhas.
"Deu pra ti, baixo astral vou pra Porto Alegre TCHAU!!"
"Deu pra ti, baixo astral vou pra Porto Alegre TCHAU!!"
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História de Nantes por fotos
Fonte das fotos:
Livro: Retour à Nantes
Autor: Daniel Quesney
Editora: Les Beux Jours
Foto: Cours de 50 Otages, place du Cirque - pg 118 e 119.
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